A frustração
Hoje vou falar sobre o sentimento de frustração e como ele está relacionado com a falta de controle diante da comida. Durante o nosso dia a dia normalmente imaginamos o que está por vir, só que nem sempre os nossos desejos, sonhos e impressões sobre as situações ou pessoas batem com a realidade. A frustração é o sentimento resultante da decepção que sentimos quando alguma coisa acontece diferente do que imaginávamos.
Algumas pessoas têm mais dificuldade de suportar as sensações que a frustração traz e se sentem perdidas e desamparadas diante das decepções da vida.
Cada um sente de uma forma
A capacidade de suportarmos as frustrações está relacionada com a nossa personalidade e também com o que aprendemos ao longo da vida. Quando somos pequenos, nos sentimos onipotentes e acreditamos que o mundo gira ao nosso redor, é a fase egocêntrica do desenvolvimento psicológico. Quando uma criança está nessa fase ela apresenta muita dificuldade em ouvir “não” e as cenas dramáticas de birra são muito comuns. O choro, a gritaria e a perda de controle mostra o quanto é sofrido para ela ter que assimilar que não tem o controle sobre a realidade.
É na relação com os adultos que a criança aprende que existem limites e, através das frustrações, ela reconhece que não controla o universo, com isso ela vai criando resistência para lidar com as dificuldades da vida. Se a criança não tem esse treino não desenvolverá a resistência a frustração e sentirá dificuldade em suportar esse sentimento no futuro.
Uma criança que é sempre atendida ou não entra em contato com as consequências do seu comportamento pode acabar não aprendendo a lidar com as dificuldades. Quando a criança não aprende a ouvir “não”, vai ter mais dificuldade em aceitar e em dizer “não” a si mesma quando se tornar um adulto. A diferença é que quando crescemos não podemos nos jogar no chão, gritar e chorar quando a vida não traz o que esperamos. Isso não quer dizer que deixamos de ter ataques de birras, os “ataques” continuam só que de forma diferente. Aquela criança esperneando pode continuar viva dentro da gente e aparecer na forma do comer demais.
A sensação de descontrole
Uma das maiores dificuldades para quem não tem resistência a frustração é aceitar que não podemos controlar a vida. Essa sensação de descontrole acaba despertando uma vontade muito grande de controlar as coisas.
Quando percebemos que a vida não obedece ao nosso controle podemos desenvolver uma atitude compensatória: não controlamos a vida, mas podemos controlar outras coisas, como a comida que ingerimos. Quando não temos o que desejamos podemos buscar aquilo que ficou faltando através do prazer de comer: “a vida pode não me dar o que eu quero, mas ao menos eu posso comer”.
Nesses momentos a comida age como se fosse uma recompensa pelo desconforto que a pessoa está sentindo.
Em alguns momentos a própria reeducação alimentar pode ser fonte de frustrações. São momentos aonde a própria RA não funciona como a pessoa esperava e ela pode ficar decepcionada.
Nossos pensamentos
Pensamentos como esses podem surgir:
“Emagrecer tinha que ser mais fácil”
“Deve haver outra forma de emagrecer sem sofrer”
“Não é justo, todo mundo pode comer menos eu”
Nessas horas a frustração pode gerar desânimo e vontade de desistir. Para que isso não aconteça esses pensamentos precisariam ser modificados para algo como: “Sim, a vida não é justa e nem é como eu gostaria que ela fosse, mas se eu quero que ela seja diferente preciso aceitar isso. Algumas pessoas realmente não têm dificuldade para emagrecer e outras não sentem vontade de comer demais. Mas comigo é diferente. Eu tenho essa dificuldade e, se quiser transformar a minha vida, preciso aprender a lidar com ela.”
O que você realmente quer?
A vida nem sempre é do jeito que a gente sonhou. O alívio para a frustração está em perceber que o “não” da vida é apenas momentâneo, que naquela hora há um limite, mas que depois as coisas podem ser diferentes. É importante também perceber que o “não” está relacionado a algumas coisas e não com o resto da nossa vida: não temos “aquilo”, mas podemos ter “isso”. Quando a vida não acontece como esperamos precisamos fazer um esforço para olhar o que temos de bom naquele momento. Um exemplo:
“Você está frustrado porque quer comer o chocolate, mas não pode.”
“Isso”
“Mas você pode comer o chocolate, só que terá consequências. Pode ser que não emagreça nessa semana, pode ser que engorde. Você escolhe lidar com essas consequências?”
“Não. Não quero engordar, quero emagrecer”.
“Então tá. Você não vai comer o chocolate mas…já, já vai se sentir melhor com o próprio corpo, está fortalecendo sua autoestima, pode comer uma fruta ou pode comer um pedaço pequeno do chocolate, pode conversar com um amigo, passear, sair, se divertir, etc”
A vida tem outras opções.
Emagrecer é uma escolha e não uma imposição. Você tem uma escolha a fazer: quer emagrecer ou não? Responda isso para você e siga o caminho que vai te levar ao seu objetivo. Sempre lembrando que existem perdas e ganhos em todas as situações da vida!
Escrito por Flávia Scavone
Psicóloga I CRP 06/58691